terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mentiras no consultório


O ato de mentir durante consulta médica é mais comum e perigoso do que se imagina. Uma pesquisa realizada nos EUA demonstrou que 45% dos entrevistados admitiram que mentem ou não falam toda a verdade na consulta e 30% mentem sobre a adesão a dietas e exercícios. A conclusão é de que as pessoas podem ter sérios problemas de saúde com esta atitude. Sem uma história clínica completa, o médico pode não receitar corretamente a medicação ou sua dosagem, ter interferência com outra medicação não citada na consulta. O médico precisa saber sobre doenças preexistentes na família do paciente, que podem alterar o tratamento. As informações detalhadas também são fundamentais na solicitação dos exames complementares e, até mesmo, para encaminhar o paciente a procurar um especialista.

Uma mentira muito comum nos consultórios é relativa à adesão de dietas e exercícios. Quando o paciente está com obesidade ou sobre-peso, na qual é necessário ter uma dieta especial é comum o paciente retornar ao consultório com as mesmas queixas, pesos e medidas da primeira consulta. Em boa parte dos casos o paciente não segue as orientações e têm vergonha de admitir.

Em casos cirúrgicos a mentira pode ser ainda mais arriscada. Fumantes têm um risco maior durante intervenções cirúrgicas devido ao comprometimento da circulação e cicatrização causadas pelo tabaco. Para obter do médico a concessão para uma cirurgia estética, por exemplo, o paciente omite ou nega a informação de ser tabagista. Isto pode acarretar problemas durante a cirurgia e no pós-operatório.
           
É muito comum o paciente chegar ao consultório informando ao médico o seu diagnóstico e até mesmo tratamento. A cultura da auto medicação e de procurar informações na internet antes de consultar os médicos são os principais indicativos para esses casos. Recebem o exame do laboratório e logo vão no “Dr. Google”. Quando vê uma alteração surge o estresse. É um erro fazer isto, pois o exame complementar não pode ser visto de forma isolada. Tem de ser correlacionada com o histórico clínico. E só o médico pode fazer este julgamento.

Diante de um cenário de consultas cada vez mais rápidas, pré-estipuladas por determinações de empresas de saúde, o médico conhece cada vez menos os seus pacientes. Não se consegue estabelecer uma boa relação médico-paciente no atual modelo. É preciso resgatar a história do médico da família, que atuava no interior dos estados e atendia vários membros de uma mesma família. Não estou aqui reforçando que as pessoas devem consultar com apenas um profissional, mas sim, que precisam tem uma relação mais sólida com seus médicos. A era dos médicos clínicos gerais, que só de olhar para um paciente já sabia o diagnóstico e fazia exames apenas para comprovar as suas suspeitas não pode acabar. O que a sociedade precisa é de médicos experientes, que sejam especialistas e ao mesmo tempo generalistas. Que entendam que o paciente faz parte de um organismo complexo e que não é apenas uma perna, um coração doente ou um rim inflamado. Finalizando: aos pacientes que confiem mais nos médicos e aos médicos, que ouçam mais atentamente seus pacientes. Boa semana a todos.  


 










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